Exclusivo: Entrevista a Gilberto Borges, Presidente do Hóquei do Sporting

No primeiro ano de regresso ao hóquei patins, o Sporting (no escalão senior) alcançou a subida de divisão. Disputa agora o campeonato da 2ª divisão, e, apesar de não ser à partida um favorito à subida, a equipa leonina tem tido um desempenho exemplar obtendo vitórias em todos os jogos até agora realizados. Não obstante ao mérito dos jogadores, este sucesso da secção vem de trás, com uma estrutura bem organizada e com a noção de que não se pode dar um passo maior que a perna. Embora o escalão senior seja o que tem maior visibilidade, e que, provavelmente, atrai mais interesse, é de realçar o esforço que tem sido feito para manter o uma equipa leonina em todos os escalões, que, face às limitações impostas, têm obtido resultado que em muito orgulha que vive o Sporting. Para compreender melhor o actual momento desta fantástica secção, o Mercado Leonino, que desde já agradece a gentileza e o tempo dispendido, chegou à fala com o Presidente do Hóquei em Patins do Sporting, Gilberto Dias Borges


1. No regresso ao escalão sénior, o hóquei patins do Sporting impressionou tudo e todos alcançando a subida de divisão. Sendo uma modalidade do Sporting, sente que existe pressão em alcançar rapidamente títulos?

Como sabe, representar o Sporting CP pressupõe ganhar, dentro da verdade desportiva, com mérito e com raça. Está no nosso código genético o alcançarmos títulos. O nosso regresso ao escalão Senior foi natural e estava exactamente consignado no nosso Projecto. No 1º ano vencemos e convencemos ao nos sagramos campeões nacionais da 3ª Divisão Nacional, invictos.


2. Durante a temporada transacta, o Sporting enfrentou a Oliveirense e deu muito trabalho a uma das históricas equipas da 1ª Liga. Com a equipa actual, o Sporting não teria condições de se fixar na máxima divisão nacional?

O jogo ante a UD Oliveirense foi excelente e uma demonstração da boa formação que temos e do plantel jovem que está a crescer. A falta de maturidade levou-nos à eliminação, mas períodos houve em que em nada fomos inferiores. Pelo contrário. Dizer-se que temos neste momento plantel para nos fixarmos na 1ª divisão pode ser excesso de confiança. Nós não vamos por esse caminho. Quando o SCP subir à 1ª divisão é para fixar-se e lutar pelos lugares cimeiros e por títulos, como historicamente se registou. Para tal teremos que amadurecer e criar as estruturas necessárias e a sua sustentabilidade.


3. É impossível fugir ao tema da crise. Na vida de um clube como o Sporting, onde o futebol é o desporto-rei, teme que o apoio ao hóquei (e outras modalidades) seja afectado?

As condições económicas do País estão muito depressivas e obviamente que as empresas que nos apoiam também têm as suas dificuldades. Felizmente temos a fidelização dos nossos patrocinadores e amigos que continuam a apoiar este projecto que tem saído vencedor. Mas também creio que nos próximos 2-3 anos não sairemos facilmente deste clima recessivo com as consequentes dificuldades para voos ainda mais altos.


4. Godinho Lopes disse há pouco tempo que ainda é cedo para pensar na subida de divisão. É o Sporting que não tem verba que disponibilize ou é o hóquei quem (ainda) não é auto-sustentável? Imaginando que o Sporting é campeão este ano, vai rejeitar a subida?

A subida de divisão, como disse atrás é sobretudo um desejo de todos os nossos atletas. Aliás é um dos pilares do projecto: crescer de baixo para cima até colocar o Sporting no seu lugar natural que é a 1ª divisão nacional. E estes objectivos têm sido conseguidos e mesmo ultrapassados pelos nossos briosos atletas, nos passos até agora dados.

Comungo com o Presidente Godinho Lopes a maioria das preocupações por que passa o nosso HP. Aliás, logo na 1ª semana do seu mandato, chamou-nos e deu-nos o espaço para a secção, no 3º piso de Alvalade e é uma forma de nos sentirmos na família.

O subir de divisão pressupõe situações que têm a ver com as facilidades físicas – pavilhão e ainda a auto-sustentabilidade para uma 1ª divisão, onde obviamente o Sporting terá que lutar para ganhar títulos e não lutar para não descer de divisão. De momento é muito difícil, mas se tal acontecer teremos que encontrar rapidamente um plano B. Não faz sentido e vai contra os nossos princípios perder para não subir. Isso não é o Sporting. O que eu acho, e aí estou com Godinho Lopes, é que ainda temos algum caminho a fazer que passa pela consolidação da equipa, sua maturidade, estabilidade da formação e mormente a nossa casa para o HP.


5. Gonçalo Alves, o “fenómeno” do hóquei leonino, segundo consta está referenciado por grandes clubes. Por quanto tempo conseguirá “segura-lo” no Sporting? Sente que ele quer continuar a representar o Sporting?

Vocês é que me dizem que ele está referenciado por grandes clubes. O Gonçalo Alves está num grande Clube e com uma das histórias mais bonitas do HP Nacional e Internacional. Trata-se efectivamente de um talento que tem evoluido no SCP e quer ele quer os seus colegas cresceram juntos e até este momento com grandes resultados a nivel nacional e até internacional.

Sei de tudo que se tem passado com o Gonçalo. Para além da minha ligação hierárquica no Clube, existem muito boas relações pessoais e familiares e portanto é mais fácil compartilharmos muitas das coisas ligadas ao HP. Eu sinto, muito sinceramente, que ele quer continuar ligado ao Sporting. Mas também sabemos que os chamados “fenómenos” muitas vezes também são procurados e saiem do País para os palcos europeus. O Sporting nisso tem bons exemplos com os “fenómenos” que sairam da nossa Academia. O importante é que fiquemos sempre gratos, mutuamente, pelo que damos e pelo que recebemos. Se eu puder ultrapassar e antecipar-me aos acontecimentos, garanto-lhe que o Gonçalo Alves continuará connosco mais uns bons anos. Aliás, ele bem sabe que, salvo raras excepções, a Modalidade não constitui modo de subsistência e felizmente que ele quer tirar um curso superior para ter outras garantias.


6. Tal como outros elementos do plantel principal, o Gonçalo veio da formação do Sporting. Continuará a ser a formação o principal “fornecedor” de jogadores?

A Formação é peça fundamental no puzzle senior. Não conseguimos bons jogadores nem colectivos se não tivermos equipas competitivas e homens preparados para a Sociedade. Tudo isto tem que jogar. As formações académica, cívica e desportiva têm que andar juntas. E de pequeninos se fazem grupos fortes para o futuro estar garantido. Fidelizar atletas traz estabilidade aos grupos de trabalho e ao Clube.


7. Recentemente alguns jogadores do Sporting estiveram presentes no Mundial de Hóquei Patins, onde obtiveram excelentes (e surpreendentes) resultados. De que forma este reconhecimento internacional do Sporting pode ser importante no desenvolvimento da secção?

Tivemos 6 jogadores internacionais: Diogo Tocha e Diogo Alves em Sub 17, João Silva e Gonçalo Alves, em Sub 20. Em ambos os escalões fomos vice-campeões da Europa e do Mundo, respectivamente. Em Seniores, contámos com 2 internacionais por Moçambique – Igor Alves e Mário Rodrigues – que tão boa conta deram do recado e foram a equipa sensação em San Juan, na Argentina. Um 4º lugar histórico! Por via disto, o Sporting CP teve uma visibilidade enorme e o reconhecimento do valor do trabalho da Secção, facto que muito deve orgulhar todos os Sportinguistas!


8. Foi este ano lançada pela primeira vez a Hóquei Box, cujo valor único de 20 euros dá direito à entrada em todos os jogos do campeonato nacional. Como estão a decorrer as vendas? Quantas “box´s” já foram vendidas?

A HóqueiBox tem sido um sucesso e muito contribuirá para ajudar a Secção. Temos neste momento cerca de 300 unidades vendidas e destaco nesse número cerca de 40 que foram compradas pelos membros do Grupo Stromp e mais 15 por dirigentes do nosso Universo Leonino.


9. A questão da construção do pavilhão do Sporting, que acaba por estar relacionada com a secção de hóquei, tem estado num impasse. Tendo em conta os desenvolvimentos recentes, como analisa a situação?

Era óptimo termos um pavilhão em Alvalade facto que nos permitiria ter, pelo menos aos fins de semana a “passerelle” das nossas modalidades e dessa forma juntar, de novo, os Sportinguistas. Sabemos que é possivel ter hóquei, em Alvalade e estou certo que a actual Direcção tudo fará para que isso aconteça. Uma coisa temos segura: o hóquei tem que ter a sua casa alternativa para continuar a formação nos moldes actuais. O complexo de Alvalade não dará para toda a gente, diariamente. Talvez só para os escalões seniores. O que hoje se passa, divide os Sportinguistas com constantes mutações de pavilhão que não permite apoio incessante a todas as nossas modalidades.


10. Os adeptos têm sido incansáveis no apoio ao hóquei, chegando em alguns jogos estarem mais espectadores do que no andebol. Os jogadores e a direcção sentem que o seu trabalho é valorizado por um alargado número de sportinguistas, ou não fosse o hóquei parte intrínseca da identidade leonina?

O Hóquei em Patins faz parte do nosso código genético e da nossa história. Fomos os primeiros campeões de Portugal e os 1ºs a vencer uma Liga dos Campeões Europeus. Pioneiros, portanto. O público habituou-se a esta modalidade e tem sido crescente o apoio, mesmo fora de portas, onde verificamos o quão grande é o Sporting. Esta modalidade atrai muito público e este ano, na 2ª divisão, verificamos que as nossas gentes fizeram subir o preço das entradas por parte dos nossos adversários, quando os visitamos. Todos sabem que o Sporting atrai público e sobretudo adeptos. Para os nossos atletas é um doping especial ter gente a entoar as nossas canções. Porque o Sporting é o nosso grande amor. Existe uma enorme empatia entre os nossos fiéis adeptos mesmo com as nossas equipas mais jovens. Tem sido extraordinário!

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